Amigo Secreto - O Que Fazer e Não Fazer

Amigo secreto, oculto, invisível... O nome pode até mudar nas diferentes regiões do Brasil, mas a essência é a mesma: uma forma de celebrar e presentear de maneira mais acessível cercada de uma aura lúdica. Apesar do clima de brincadeira, vamos levar a coisa a sério, pois é possível transformar essa situação em um momento prazeroso e capaz de agregar familiares e amigos.

Há os que dizem que o amigo secreto vem de ritual nórdico em que as pessoas esperavam o amanhecer para trocar presentes. Quando isso acontecia, diziam: "Que você jamais se esqueça dos deuses sobre nós". O presente teria a função de eternizar o pacto.

Existem duas situações em que o amigo secreto acontece: no ambiente de trabalho e entre a família, por ocasião do Natal.

No ambiente profissional - no qual, aliás, essa tradição se consolidou -, a brincadeira pode ter algumas variantes, mas a base permanece: no fim do ano, sorteiam-se todos os participantes para que seja feita a troca dos presentes, em um clima leve e descontraído.

O mais eficiente é que alguém se encarregue de verificar quem quer participar, e eis a grande dúvida quanto à obrigatoriedade ou não de entrar na festa. Não é obrigatório, mas pode ser extremamente desagradável a sua recusa em integrar a brincadeira. Avalie cada situação.

Muitas vezes, depois de sortear o papel com o nome do seu amigo, vem a vontade de pedir para trocá-lo, na esperança de que, na outra tentativa, você "pegue" alguém com quem tenha maior proximidade. Evite. Principalmente no ambiente corporativo, esta é uma proposta para agregar, e não para segregar. Aceite o que a sorte lhe reservou e tire o melhor partido disso.

Entre o sorteio e a revelação do amigo secreto, pode-se estabelecer uma caixa de mensagens na qual são depositados recados de um participante para outro no intuito de dar mais graça e leveza à brincadeira. Nem pensar em menções não simpáticas ou desagradáveis.

Costumam-se definir um "piso" e um "teto" para o valor do presente. É fundamental que se permaneça dentro do combinado, evitando o constrangimento de alguém receber um mimo super sofisticado enquanto dá um singelo demais.

Regra sábia: o combinado não é caro.

Não se impressione por ter tirado seu chefe ou superior, achando que terá de gastar mais no presente.

Esse gesto só vai causar um tipo de impressão: a péssima.

Se você tirou o seu "super parceiro", "chapa", enfim, uma pessoa do trabalho com quem tenha grande afinidade e queira presentear de forma diferenciada, o.k., é permitido fazê-lo, mas não perante os outros. Fique dentro dos limites de valor do presente e, se for o caso, dê um outro sem que os demais tomem conhecimento.

Existem empresas nas quais é permitido que se faça uma lista do que cada um gostaria de receber. Na minha opinião, a brincadeira começa a perder o sentido, pois o presente também deve ser uma surpresa. Caso a lista tenha sido feita e o pedido do seu amigo ultrapasse o valor estipulado, não se sinta obrigado a comprar esse item.

O dia estipulado para a troca dos presentes é aquele em que reside a maior parte dos temores dos tímidos, principalmente se a entrega tem de ser feita com representações mímicas e teatrinhos para que os demais adivinhem qual é o amigo secreto em questão. Vamos respeitar os limites de cada um. Os que se sentem mais à vontade para fazer a pantomima, o.k. Os que preferem pura e simplesmente entregar o presente, o.k. também. Assim, todos participarão da festa sem constrangimentos.

Em uma eventual mímica, a tentação pode ser grande, mas evite exagerar em descrições caricatas de alguém.

A troca costuma acontecer em uma festinha elaborada no final do expediente. Os detalhes podem variar de local para local, mas provavelmente teremos alguns comes e bebes. Como sempre, há de se esperar que você se comporte de forma civilizada. Bebidas alcoólicas no ambiente de trabalho não são uma boa pedida. Mesmo que permitido, evite incluí-las na brincadeira.

No ambiente profissional deve ser evitado qualquer presente de conotação íntima. Itens de certa pessoalidade também não são bem vindos.

Nos Estados Unidos, onde a brincadeira é chamada de "Secret Santa" (em referência a Santa Claus, Papai Noel em inglês), é comum que se estabeleça o "amigo caneca". Assim, os presentes trocados são apenas mugs - ou seja, canecas. Não é um hábito nosso, mas vale a dica para, se for o caso, estabelecer um item único, como um "amigo camiseta" ou um "amigo DVD".

Aos que imaginam, nessa hora, dar presentes dúbios ou "engraçadinhos": hipótese descartada. Este é o parâmetro adotado pelo "amigo da onça", uma variação do amigo secreto cuja base é tirar sarro, constranger. Acredite, o resultado jamais será 100% satisfatório. Eu aboliria o simples pensar no assunto.

O Amigo da Onça foi o famoso personagem criado pelo cartunista Péricles (1924-1961) em 1943, na revista O Cruzeiro.

Demonstrar que não gostou do presente que acabou de ganhar não é permitido em situação alguma, pois houve o intuito de agradar. Portanto, ao abrir o seu - o que deve ser feito na frente de todos -, mesmo que não seja o mais bacana ou o que esperava, faça cara de contente. Faz parte da brincadeira.

A reação inversa - ou seja, aquela em que o presenteado fala que gostou, gostou mesmo, de verdade, e explicar o porquê disso por intermináveis minutos - também pode ser eliminada.

Existe uma corrente de pessoas que afirmam categoricamente que trocar presentes é falta de etiqueta ou de educação. Eu faço parte da corrente oposta. Parece-me muito mais interessante que o presenteado possa usufruir daquilo que ganhou, portanto, a troca¹ não deve causar embaraço ou constrangimento² a nenhuma das partes. A regra para tentar acertar é pensar no presenteado e comprar um item dirigido a ele, o que não necessariamente irá ao encontro das suas preferências. Quem presenteou não deve insistir em confirmar que o presenteado gostou do mimo, muito menos exigir vê-lo trajando a peça. Que medo!

¹ Claro que isto não precisa ser alardeado aos quatro cantos.

² Vale lembrar apenas que, no caso de você ter escolhido para a sua prima de silhueta robusta aquele top PP, ela tem todo o direito de ficar bem zangada.

A troca que sucede à entrega de presentes deve se basear no grau de formalidade existente no decorrer do ano. Se durante todo esse tempo você cumprimentou uma pessoa apenas lhe dando a mão, assim devera ser o seu cumprimento de Natal.. É extremamente fora de propósito que apenas em função da data você se sinta à vontade para abraçar e beijar o seu amigo secreto ou mesmo jogá-lo para o alto, no melhor estilo "velhos companheiros".

Alegria pré-fabricada é triste.

De uns tempos pra cá, vem sendo adotado o "amigo chocreto", que, como o nome diz, traz como diferença o fato de que todos os presentes são de chocolate. Se o fôlego e o orçamento permitirem, deixe essa opção para a proximidade da Páscoa.

Quando realizamos o amigo secreto em casa - uma alternativa adotada por um número crescente de famílias para reduzir as despesas -, as regras são basicamente as mesmas, mas, sem dúvida, a pessoalidade pode e deve existir. Permitidas, neste caso, mais farra e folia, até pela intimidade entre as pessoas, que já conhecem a peculiaridade de cada um.

Aqui é fundamental que "presentões extras" sejam dados na intimidade de cada lar.

Existe uma variação da brincadeira que é bem divertida: definido o valor, homens trazem presentes masculinos, e mulheres, itens femininos. Ao chegar, estes são depositados em pilhas separadas. A grande graça está em mascarar ao máximo a embalagem, a fim de que ninguém tenha ideia do que possa ser aquele presente. Por exemplo, pode-se brincar com sacolas de grifes caríssimas, caixas de tamanho bem maior do que o do item em questão, embrulhos com folhas de jornal. Alguém é escolhido para dar início à brincadeira e se dirige até a pilha de seu gênero, escolhendo um presente. Pode-se fazer uma tentativa de adivinhação do que está sob aquele pacote, mas o importante é que quem o trouxe se identifique, pois essa pessoa será a próxima a se dirigir à pilha de escolhas, e assim sucessivamente.

Há os que acrescentam, a essa variação, a possibilidade de o presente ser "roubado" pela pessoa seguinte. Ou seja, esta, em vez de se dirigir à pilha, diz querer aquele que você ganhou. É estabelecido um limite de vezes em que isso pode acontecer. O problema aí é que, como em qualquer brincadeira, tudo precisa ser bem combinado, pois nem todos vão querer ver um item que adoraram ser retirado de suas mãos.

O horário para a troca de presentes varia, pois existem famílias que preferem para, depois, fazer a comemoração, até em função das crianças. Da mesma forma, há as que seguem o ritual tradicional de só jantar à meia-noite. Sugiro que a brincadeira dos presentes aconteça mais perto do início da festa, pois, seja em casa ou no escritório, na sequência todos podem se sentir liberados para um ritual glutão.

Que, vale lembrar, pode ser sem culpa se estivermos falando da comemoração doméstica, mas mais comedido se se tratar de uma festa do escritório.


O importante nisto tudo é a delícia de presentear e ser presenteado. Vamos fazer disto algo leve, de bom gosto, não esquecendo nunca que o espírito deve procurar ao máximo se distanciar do aspecto material. O que vale é, descompromissadamente, dar o presente, mas sempre valorizando os sentimentos de amor, paz e perdão do Natal.



Fonte: ARRUDA, Fábio. Faça a Festa e Saiba o Porquê. São Paulo: Senac, 2009.
Imagens retiradas da Internet.